domingo, 25 de agosto de 2019

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO, UM PAR PERIGOSO!




PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO, UM PAR PERIGOSO!

Luiz Câmara[1]


Em nosso cotidiano ouvimos, e muitas vezes afirmamos que tal ou qual pessoa é preconceituosa. Em outros momentos nossas opiniões, geralmente sobre assuntos polêmicos, são acusadas de serem preconceituosas e discriminatórias. Mas, afinal de contas o que é o preconceito? Preconceito e discriminação são sinônimos? Ambos são sempre ruins e prejudiciais? Vamos pensar um pouco sobre isso.
O termo preconceito, segundo os professores Danilo Marcondes e Hilton Japiassu[2], pode se referir a qualquer “opinião ou crença admitida sem ser discutida ou examinada, internalizada pelos indivíduos sem se darem conta disso, e influenciando seu modo de agir e de considerar as coisas” Neste sentido, muitas das ideias que possuímos sobre vários aspectos de nossa realidade cotidiana não passam de pré-concepções, posto que, não estamos todo o tempo discutindo e examinando sua validade e coerência.  Ademais, é a partir de tais concepções prévias que os conhecimentos aprofundados – os conceitos – são construídos e revistos.
Por outro lado, entretanto, o preconceito possui também, um sentido negativo, significando o preconceito que nega a particularidade daquilo ou daqueles que são diferentes e justifica dominações e exclusões. Precisamos enternder que é este tipo de preconceito que mais exige nossa atenção, porque é necessário que percebamos que nosso preconceito não se trata de uma opinião própria, mas pelo contrário, é sempre uma opinião transmitida, herdada e aceita sem ter passado por uma avaliação crítica e que, em geral, não há justificativas para o medo ou o ódio irracionais frente a determinados grupos humanos, que possuem características identitárias diferentes das nossas.
Discriminar, por sua vez, pode significar distinguir, separar ou diferenciar. Todavia, pode se referir, igualmente, ao tratamento desigual ou injusto dado a uma pessoa ou grupo, com base em preconceitos de alguma ordem. É esta última acepção que é negativa e deve nos preocupar, pois nos remete às diversas formas de distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada em quaisquer características identitárias que tenha como objetivo ou como efeito destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos do ser humano e das liberdades fundamentais nos domínios político, econômico, social e cultural[3].
Como podemos perceber o preconceito e a discriminação, embora diferentes, frequentemente andam juntos. Ao aceitar concepções e opiniões sem refletir sobre elas, corremos o risco de julgar e tratar os outros em função de algumas características, sejam físicas ou de comportamento, que consideramos inferior ou indesejável, desrespeitando, como consequência, seu valor enquanto pessoa e seu direito de ser como é. E, o que é mais grave, agimos assim acreditando que estamos defendendo nosso sagrado direito de pensar e agir com liberdade. Não podemos nos esquecer, contudo, que somos verdadeiramente livres apenas quando refletimos criticamente sobre nossas próprias crenças e valores. Pense a respeito.


[1] Coordenador pedagógico e professor de filosofia e sociologia do Colégio Recanto do Fazer.
[2] JAPIASSU, I.  e MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. (p.224)
[3] Conforme a “Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial – 1965” Disponível em <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos /discriraci.htm>

Um comentário:

  1. Muito bom! Ter consciência de seus preconceitos, é um grande passo para a desconstrução do mesmo.

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