Em nosso cotidiano ouvimos, e muitas vezes
afirmamos que tal ou qual pessoa é preconceituosa. Em outros momentos nossas
opiniões, geralmente sobre assuntos polêmicos, são acusadas de serem
preconceituosas e discriminatórias. Mas, afinal de contas o que é o
preconceito? Preconceito e discriminação são sinônimos? Ambos são sempre ruins
e prejudiciais? Vamos pensar um pouco sobre isso.
O termo preconceito, segundo os
professores Danilo Marcondes e Hilton Japiassu[2],
pode se referir a qualquer “opinião ou crença admitida sem ser discutida ou
examinada, internalizada pelos indivíduos sem se darem conta disso, e
influenciando seu modo de agir e de considerar as coisas” Neste sentido, muitas
das ideias que possuímos sobre vários aspectos de nossa realidade cotidiana não
passam de pré-concepções, posto que, não estamos todo o tempo discutindo e
examinando sua validade e coerência.
Ademais, é a partir de tais concepções prévias que os conhecimentos
aprofundados – os conceitos – são construídos e revistos.
Por outro lado, entretanto, o preconceito
possui também, um sentido negativo, significando o preconceito que nega a
particularidade daquilo ou daqueles que são diferentes e justifica dominações e
exclusões. Precisamos enternder que é este tipo de preconceito que mais exige
nossa atenção, porque é necessário que percebamos que nosso preconceito não se
trata de uma opinião própria, mas pelo contrário, é sempre uma opinião transmitida,
herdada e aceita sem ter passado por uma avaliação crítica e que, em geral, não
há justificativas para o medo ou o ódio irracionais frente a determinados
grupos humanos, que possuem características identitárias diferentes das nossas.
Discriminar,
por sua vez, pode significar distinguir, separar ou diferenciar. Todavia, pode
se referir, igualmente, ao tratamento desigual ou injusto dado a uma pessoa ou
grupo, com base em preconceitos de alguma ordem. É esta última acepção que é
negativa e deve nos preocupar, pois nos remete às diversas formas de distinção,
exclusão, restrição ou preferência fundada em quaisquer características
identitárias que tenha como objetivo ou como efeito destruir ou comprometer o
reconhecimento, o gozo ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos
do ser humano e das liberdades fundamentais nos domínios político, econômico,
social e cultural[3].
Como
podemos perceber o preconceito e a discriminação, embora diferentes,
frequentemente andam juntos. Ao aceitar concepções e opiniões sem refletir
sobre elas, corremos o risco de julgar e tratar os outros em função de algumas
características, sejam físicas ou de comportamento, que consideramos inferior
ou indesejável, desrespeitando, como consequência, seu valor enquanto pessoa e
seu direito de ser como é. E, o que é mais grave, agimos assim acreditando que
estamos defendendo nosso sagrado direito de pensar e agir com liberdade. Não
podemos nos esquecer, contudo, que somos verdadeiramente livres apenas quando
refletimos criticamente sobre nossas próprias crenças e valores. Pense a
respeito.
[1] Coordenador pedagógico e professor
de filosofia e sociologia do Colégio Recanto do Fazer.
[2] JAPIASSU, I. e MARCONDES, D. Dicionário básico de
filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. (p.224)
[3] Conforme a “Convenção Internacional Sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial – 1965” Disponível em <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos
/discriraci.htm>
Muito bom! Ter consciência de seus preconceitos, é um grande passo para a desconstrução do mesmo.
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